quarta-feira, abril 4

:: MENTIR PRA QUE, MESMO?




“A verdade dói” , dizia a menina com uniforme da rede pública para a amiga, dentro do ônibus em que eu estava, a caminho do Centro.  Elas conversavam sobre o fim do relacionamento de uma terceira amiga. Aparentemente a menina havia sido dispensada por um dos dois namorados que mantinha.  

Eu confesso uma certa admiração por gente como a menina, que consegue manter dois namoros, dois casamentos, dois casos. Convenhamos que um só já é bastante complicado vez ou outra. Imagine você ter de lidar com duas pessoas em crise, duas doses de ciúmes, revezamento de carências, sem falar no gasto emocional de dar “amor” a duas pessoas. E olha que tem muito “Jedi”  por ai mantendo três ou quatro relacionamentos paralelos. Não dou nomes nem sob tortura, porque tenho amor a vida.

O papo me interessou e eu continuei acompanhando. A “dispensada”, segundo as amigas, estava triste demais [forcei, mas nenhuma lágrima desceu dos meus olhos secos]. O namorado desertor havia descoberto a farsa e, magoado no auge dos seus prováveis 15 anos, recitou uma dúzia de insultos impublicáveis para a adúltera. “Ele tá é certo...”, encerrou uma delas, antes de se levantarem juntas para descer. 



Longe de mim promover incentivo à violência, seja ela verbal ou física, mas dá pra entender. A menina, com a insegurança que deveria ser peculiar apenas à sua adolescência, garantiu dois namorados com receio de não ter nenhum. Acaba dando no mesmo. Eu fico meio sem entender esse papo egoísta de que você não precisa ser honesto com a pessoa que está com você.  

Dizer a verdade não é obrigatoriamente uma coisa fácil. É preciso iniciativa, coragem, determinação, firmeza mesmo. É preciso respirar fundo antes e cuidar das palavras pra elas não ferirem mais que o assunto em si. Vai doer no outro e até em você, se quer saber. Mas dói por menos tempo e machuca muito menos do que uma mentira descoberta. 

Ao contrário do que se pode pensar, quando defendo que se diga a verdade, não o faço para parecer o correto. Pasme, mas eu minto. Minto o tempo todo e sobretudo para mim mesmo. Acontece que a mentira não deveria ser banalizada e precisa ser contextualizada [vamos decorar essa parte, por favor]. Mentir pra quem se gosta é mentir pra si mesmo. É mentir pra tudo. Aí, não dá. A verdade simplifica, encurta processos dolorosos e deixa menos sequelas emocionais em quem a ouve. 

Ela dói sim, meninas. Mas vocês ainda tem muito tempo pra colocar tudo isso na balança. 

FUI!





Autor: Felipe Carvalheira


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3 comentários:

A Papa do Papagaio disse...

Maravilha de texto, Felipe! Amei. Bj e sucesso! Ass.: Elza

Criatura Biruta disse...

Gostei de sua abordagem e concordo com ela,principalmente quando você diz que "mentir para quam se gosta é mentir para si mesmo".Sem dúvidas.Você não pode ser honesto com ninguém sem antes ser consigo mesmo,como tudo na vida. Penso que,mentir,não existe ninguém que não o faça,mas a verdade deve ser "cultuada" sim. Ainda acredito nisso.Mas vou parar por aqui pois esse assunto dá até livro...hahaha.
Bjs
Paulinha

Carol Secchin Barros disse...

Esse tipo de atitude infantil me cansa só de pensar... O ridículo é ver gente adulta com esse tipo de comportamento...

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