terça-feira, novembro 9

::ALGUÉM TEM QUE CEDER: ESCOLHAS, ENCONTROS E DESENCONTROS

“O amor verdadeiro tem destas coisas: não se explica, não se controla, não se racionaliza, simplesmente toma conta" 
Martha Medeiros

"Me preocupar com você, pensar que arruinei sua vida, é algo que faço o tempo todo desde que te conheci!" (fala do filme "Alguém tem que ceder"). Esse é o discurso de quem, por não querer se envolver, quase se envolve mas escolhe a renúncia de qualquer possibilidade de vínculo afetivo, na garantia da segurança do "mais forte". Quando encontra-se "O" sujeito determinado da oração de seu presente, deixá-lo de lado para vagar no oculto, é um engano brutal. A caixinha de música se faz presente, mas não é aberta. Ignorar a melodia não anula a verdade da caixa. O som penetra de outro jeito no imaginário da possibilidade, do "e se?". Como um personagem covarde ao comprometimento de uma relação não vivida, engana-se o "esperto" que tenta driblar o incontrolável. Se não o vive pra fora, o "por dentro" permanece e, mais do que isso, inquieta, como um incessante zumbido de pernilongo no quarto escuro.

Era Nietzsche quem afirmava que ninguém busca igualdade de relações. Em sua concepção, hipócrita seria quem afirmasse a própria humildade e altruísmo como objetivos desinteressados de qualquer regozijo interno. Numa relação a dois é mais poderoso quem se preocupa menos, quem gosta menos. No entanto, tal regra só vale na essência, sendo inútil quando dissimulada. Quem a enfatiza na vida privada, na intimidade de uma relação amorosa,  garante uma dúzia de corações alheios, partidos em mil pedaços, por não ser a parte fraca da relação. É o que liga menos, sente menos e quem não quer mais.

A coragem não é a ausência do medo, mas a presença ultrapassada deste obstáculo; o ir adiante, avante, além, seguir a brisa, dar a cara a tapa, tentar mais uma vez ou até voltar atrás. As pessoas erram na vida buscando acertos, êxitos, seguranças e estabilidades. Constâncias de viver. A percepção objetiva de tentativas e acertos na vida prática individual encaixa-se como luva no trabalho, na poupança, no estudo, nos projetos e ambições, nas concretizações. Relacionamento, união de corpos distintos em prol de uma vontade, de um querer, é tecido por outro princípio que não o da razão prática.


"Tudo é ousado para quem nada se atreve"


Ninguém busca ser a parte em desvantagem na relação, seja de qual natureza for. Quanto a isso, Nietchze ainda tem razão. Mas quando o foco é íntimo, o  erro, nítido e oriundo do privilégio na segurança lógica, reside na procura pela vantagem a despeito do equilíbrio a dois. Metade e não três quartos. Cinco de dez e não cinco de sete. Meia colher de açúcar e meia de farinha de trigo. Metade biscoito, metade recheio. Empate. Status quo.

Medo de gostar, pavor de se envolver e por se envolver, mais tarde se decepcionar. Receio de amar, tentar novamente e insistir no erro. Sim, todos temos. Medo de gostar em vão, medo de querer mais ou sentir além. A resenha dos receios é a potencialidade de ser "menos" numa relação. Daí, quando inseguros e ariscos, encontramos meios de autodefesa programada. São os jogos de poder.



Desistir cedo ou sequer tentar é covardia de quem não ousa arriscar. Criança que vive é criança que se espatifa, enfia o dedo na tomada para aprender que dá choque, suja a roupa nova, aperta a campainha dos outros e sai correndo, se lambuza de sorvete, se assusta com histórias de terror, faz a brincadeira do copo, corre na chuva e anseia pelas férias de verão. Comer no "podrão" cria resistência no organismo. Nesse aspecto, o erro é o acerto na vivência da experiência do dia a dia.

Quem ousa realizar a travessia do medo ao encontro da coragem? Ponderação de interesses, respeito à realidade e consciência das vontades. Ser atrevido e desafiar a si próprio. Se for pra amar, que seja bem amado. Se for para tentar, que não pare na metade. Se for para sentir, que sinta com razão. Se for para querer, que queira A VONTADE. Se for a exceção, que seja única e fora da regra.



O egoísmo prepondera nas relações atuais. Uma individualidade exacerbada no sentido de que, "Eu", sempre em primerio e segundo lugar, durante o tempo em que "Eu" estiver satisfeito. Eu (sem aspas) não quero ser assim! Não tenho tatuagens que contem minha história, mas as cicatrizes que carrego me trouxeram até aqui. Podia ter amado mais, arriscado mais, "querido" mais. Podia ter calado menos, sentido menos, escondido menos, forjado menos, fugido menos. O medo foi o ponto de conflito, mas que nunca anulou o objeto em si. Medo de machucar, e por não controlar o que viria a acontecer, me machucava ainda mais. Medo de terminar, e por temer, terminava com antecedência. Medo da repetente decepção, minha singela razão sínica para não mudar o disco e abrir portas ao novo, desconhecido. Nada se repete, acontece do mesmo jeito. Por pior que seja a experiência anterior, no ato seguinte, os atores são outros, inclusive o "EU" de cada um. Nem pior e nem melhor, apenas diferente e apta a virar a página e escrever outro capítulo.

Deixei de sentir por muito tempo, fingindo que sentia tanto, na segurança dos pés no chão. Quando ousei, aceitei dançar na inconstância do sentir a dois, fui a fundo, senti tudo, quebrei a cara, sofri, me reergui e retornei. Não existem algozes ou vítimas do destino. Experiências são fatos, vontades no plano da ação. Continuidade. Experiências nos permitem encerrar capítulos, escrever novas histórias, aprender novos ritmos, descobrir novos gostos ou recomeçar quando tudo parecia findo no passado. A experiência permite o encontro com a vivência no discernimento de cada atitude revelada nos atos de vontade, de decisão, de querer.



O exercício do livre arbítrio é a permissão que concedemos a nós mesmos de seguir em frente, dar a cara a tapa, concordar com Nietzschze e ainda assim buscar o conforto do amor bobo, capaz até de ferir a fundo. Um amor de estação, de momento, quiçá não correspondido, pouco vivido, sentido ao máximo, duradouro ou escasso com o conhecimento de cada um. Por que não tentar, ousar, voltar, falar, querer, sentir? Ouro de tolo, a vantagem  de malandro na proteção alcançada com o status de poder no pólo forte da relação. O poder não garante felicidade nesse sentido. O poder não garante a vivência. O poder garante a segurança nula, de quem não sente por temer se revelar. Um querer viciado. Um jogo repetitivo sem lógica na mesma estratégia: não jogar.

Pegar o caminho errado, quebrar a cara, permitir ser bobo, se apaixonar, cometer loucuras, também é viver. Aliás, talvez seja o colorido da vida, a sonoridade da música, o ritmo da dança, o "bobo" do apaixonado. O tempo para isso é sempre o "agora", na dependência de um único vetor, qual seja, a decisão, o impulso máximo da vontade diretiva.



Tentar sem resposta, sem caminho, sem destino. Tentar por tentar, por sentir, por viver. Viver por querer, com querer e pra ser querido. Chorar pra valer, contar histórias, lembrar com saudade, inventar desafios, solucionar conflitos, superar um fora e dar um fora para superar. Escolher o turbilhão do "tudo" ao vazio do "nada". Explorar os sentidos com o sentir alheio em si. Admitir que quer quando se quer com vontade, sem razão na lógica, apenas pela necessitade inexplicável de querer, mesmo sem poder. Escolher artigos definidos acompanhando substantivos. Esquecer "um" amor para buscar "O" amor. Resgatar "O" amor quando não superado.

Transformações impulsionam os ponteiros do tempo. Somos eternas mutações. Não sou a mesma de ontem, sou quem sou agora e, de certo, serei outra no amanhã. Quem sou eu? Uma relatividade em mim. Como criar expectativas eternas se o que queremos "agora" é fruto do que somos no momento do querer, tão inconstante quanto o pensamento que transborda no tempo? Real é agora, querer é já, imediato demais para se fazer esperar. Injusto reprimir o desejo de sentir na melhor das vontades.



Amor não tem lógica, propósito, distância. Não busca "O" certo, "O" apropriado, "O" momento, "A" razão. Ele arrisca, sente com querer, magoa e é magoado, ama e é amado, termina ou é recomeçado, se inicia não sei da onde ou surge sei lá do que. Às vezes permanece, pode até se perder no tempo, é ousado, quando difícil de se viver, e perfeito quando ultrapassado os obstáculos do medo. Mas sobre ele e, nele se grita: valeu, vale ou valerá a pena senti-lo em mim. Que se faça presente.

"Sumi porque só faço besteira em sua presença, fico mudo quando deveria verbalizar, digo um absurdo atrás do outro quando melhor seria silenciar, faço brincadeiras de mau gosto e sofro antes, durante e depois de te encontrar.

Sumi porque não há futuro e isso não é o mais difícil delidar, pior é não ter presente e o passado ser mais fluido que o ar.

Sumi porque não há o que se possa resgatar, meu sumiço é covarde mas atento, meio fajuto meio autêntico, sumi porque sumir é um jogo de paciência, ausentar-se é risco e sapiência,pareço desinteressado, mas sumi para estar para sempre do seu lado, a saudade fará mais por nós dois que nosso amor e sua desajeitada e irrefletida permanência."

Martha Medeiros

Por isso, permita-se gostar, tentar, ousar, querer. O amor é sentença arbitrada pelo destino. Nunca se sabe como ou quando irá chegar ou quanto tempo irá permanecer. O primeiro passo é dar as mãos, sem compromisso, na leveza do incerto, na curiosidade do desconhecido e na expectativa do ansioso, no quase sem querer. Quando a vontade torna-se diária, a preocupação ganha volume, o olhar ultrapassa os defeitos, o querer importa-se com o outro, o "INDIVI" encontra o "DUAL", daí ele surge...numa maré de possibilidades infinitas: O amor que não joga, que não se segura, que não se nega, que não se ignora,  que não finge não amar. O amor que ensina, compromete, relaciona, chora e faz chorar. O amor que escolhe continuar, que decide terminar, que diz, sem medo,  amar. Amor que não se repete, que se transforma, que se recorda e se faz desejar. Amor que inspira, escreve, prevalecesse, amadurece e se deixa amar. Amor sem fórmula, quando o desejo é amar.


.:. Girly Stuffs.com .:.
    "Triste é não sentir nada..."
                     Martha M.






"Medo de amar? Parece absurdo, com tantos outros medos que temos que enfrentar: medo da violência, medo da inadimplência, e a não menos temida solidão, que é o que nos faz buscar relacionamentos. Mas absurdo ou não, o medo de amar se instala entre as nossas vértebras e a gente sabe por quê.

O amor, tão nobre, tão denso, tão intenso, acaba. Rasga a gente por dentro, faz um corte profundo que vai do peito até a virilha, o amor se encerra bruscamente porque de repente uma terceira pessoa surgiu ou simplesmente porque não há mais interesse ou atração, sei lá, vá saber o que interrompe um sentimento, é mistério indecifrável. Mas o amor termina, mal-agradecido, termina, e termina só de um lado, nunca se encerra em dois corações ao mesmo tempo, desacelera um antes do outro, e vai um pouco de dor pra cada canto. Dói em quem tomou a iniciativa de romper, porque romper não é fácil, quebrar rotinas é sempre traumático. Além do amor existe a amizade que permanece e a presença com que se acostuma, romper um amor não é bobagem, é fato de grande responsabilidade, é uma ferida que se abre no corpo do outro, no afeto do outro, e em si próprio, ainda que com menos gravidade.

E ter o amor rejeitado, nem se fala, é fratura exposta, definhamos em público, encolhemos a alma, quase desejamos uma violência qualquer vinda da rua para esquecermos dessa violência vinda do tempo gasto e vivido, esse assalto em que nos roubaram tudo, o amor e o que vem com ele, confiança e estabilidade. Sem o amor, nada resta, a crença se desfaz, o romantismo perde o sentido, músicas idiotas nos fazem chorar dentro do carro.

Passa a dor do amor, vem a trégua, o coração limpo de novo, os olhos novamente secos, a boca vazia. Nada de bom está acontecendo, mas também nada de ruim. Um novo amor? Nem pensar. Medo, respondemos.

Que corajosos somos nós, que apesar de um medo tão justificado, amamos outra vez e todas as vezes que o amor nos chama, fingindo um pouco de resistência mas sabendo que para sempre é impossível recusá-lo."
Martha Medeiros


"Desaprender para aprender. Deletar para escrever em cima.
Houve um tempo em que eu pensava que, para isso, seria preciso nascer de novo, mas hoje sei que dá pra renascer várias vezes nesta mesma vida. Basta desaprender o receio de mudar"
Martha Medeiros

21 comentários:

Mariana Luiza disse...

absolutamente perfeito...

Mariana Luiza disse...

absolutamente perfeito...

@estelamp81 disse...

@estelamp81 Nov 09, 8:00pm via Web

Muito bom o ultimo post! Tô gostando do que tenho lido!

Anônimo disse...

lindo, seguro, íntimo e sensacional...me comoveu,

@Melina_c disse...

@Melina_c 1:40pm via web

Achei esse texto muito legal, concordo, se é pra sentir que seja de verdade. RT @Girly_Stuffs http://ow.ly/38bjx

@Teh_Takahashi disse...

@Teh_Takahashi 3:01pm via Echofon

@Girly_Stuffs li o texto, mto bom. adorei, falou um pouco sobre o processopelo ql estou passando/passei.

@gretagerace disse...

@gretagerace 7:43pm via Web

adoreiii!! muito bom mesmo!! bjobjo

Giovana Amaral disse...

parece que vc entrou no meu íntimo e colocou em palavras td o que sentia mas não sabia dizer...estou emocionada! Lindo lindo lindo!
Uma nova escritora nasce aí.....

@franco1806 disse...

@franco1806 10:48pm via Snaptu.com

Que legal. Adorei.

Vinicius Denot disse...

vc sabe expor com perfeição o sentimento em palavras. Isso é um dom.

Vinicius Denot disse...

Só mais uma coisa... vc é linda por dentro e por fora, o q a torna mais especial. Vc vai longe com esse seu talento único e capaz de tocar a intimidade de pessoas q nunca tiveram o prazer de te conhecer. Isso é demais Rô. Parabéns,mtos mtos parabéns. Vc merece o sucesso e os elogios. Cada um deles.

Anônimo disse...

palavras únicas. texto incrível. Qto a relacionamento, só expresso o seguinte: tem q ser mto homem para acompanhar uma mulher tão singular.

@vivimezzomo disse...

@vivimezzomo 1:24am via Web
lindo texto!

Anônimo disse...

ôpa.. bom texto! O relacionamento é uma troca... há interesse! E essa é graça, a importancia, pq gera aquela sensação gostosa de troca de amor ...rs.
bjos,
Nandita Caymmi
www.nanditacaymmi.blogspot.com

Daniel Rascollo disse...

Rô,
Achei simplesmente incrível o que vc escreveu. O que o "anônimo" escreveu concordo em todas as palavras. Vc é uma pessoa singular e privilegiado quem te conhece. Sei que por detrás das palavras a intenção tb é igualmente interessante...
Achei demais esse post. Refletiu
mta coisa no mínimo aguçante..
Beijos,

@lacerda_lais disse...

@lacerda_lais 9:59pm via Web

@Girly_Stuffs Adorei o blog, parabéns :*

@carolsantoroh disse...

@carolsantoroh 3:06pm via Web

lindíssimo o texto! Era exatamente o que eu estava precisando ler! Obrigada, de coração!

@angelicamaes disse...

@angelicamaes Nov 18, 10:05am via Web


Gostei do Blog! (: vou indicar aqui! >< ;*

@angelicamaes disse...

@angelicamaes Nov 18, 10:06am via Web

http://girlystuffs.blogspot.com/2010/11/alguem-tem-que-ceder-escolhas-vivencias.html Blog >>

.. mto bom galera! ;) ;*

@je_escardovelli disse...

@je_escardovelli Nov 20, 12:07am via Web

muuuito bom esse blog!

Gabriel C. disse...

sabe quando a gente é pego sem palavras....? estou fascinado. Só isso.

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