quinta-feira, novembro 25

::DUELO DE ESPELHOS: A INCRÍVEL ARTE DO DESAPEGO



"Saudade presente, na ausência de nós dois
Insana e injusta sanidade, com razão e vontade.
Pra que te quero, se me devora?
Decifra meus gestos, meus verbos, meus intentos.
Congela minhas vontades que paralisam em você

Se me acostumei com a solidão cercada de gente
Por que sem você, é o vazio, diferente?
Hipérboles de um amor sozinho, na valsa sem par
Não ter, querer ainda mais
Ilusão do desejo, sem ego, na vontade, estima do objeto, em saudade.

Que amor sem propósito, sem ambição de dar certo
Improvável e sem rumo, se fez chegar, no vazio do mundo,
Desafio na vontade, imprudente revelada,
Esqueci que o dois, na presente necessidade de um Só
insiste no erro, na dor, no apego,
Fugi e me perdi em mim, dentro de você.

Sabia de tudo, tanto de tudo e tudo a saber
Só não sabia de mim, até você
Agora, que já não sei mais nada, a não ser quem sou
Não te tenho ao meu lado mas guardo o retrato
na hora revelado, meu espelho encantado, pra que rumo vou.

O simples, complicado na insistência de te querer ainda assim
Exceção de toda regra, contraponto, paradoxo, ponto de encaixe.
Foi você, me deixou sem disfarce, armadura no enlace, dessa dor
que ouso, sem jeito, escrever amor.

Ah se pudesse escolher, de tão viciada que sou
Ainda escolheria você, reconhecimento do equívoco,
Verdade injusta na dolorida versão
Revelada na angústia do que carrega
no quase sem, do querer em nós,
Agora em mim, até que fim."

Algumas coisas não caem no vício do costume. Muito particular, o incômodo que algo ou alguém podem provocar. Uma peça que não encaixa no quebra-cabeça do convívio, costume diário de cada um. O incômodo é quase uma violação da intimidade, que se mantém preservada entre o equilíbrio racional e as imponderações do instinto animal que nós, benditos seres Humanos, tentamos erradicar de sua (nossa) essência criadora. Daí o incômodo pelo sentir "incômodo". Como se um já não fosse o suficiente, buscamos o maldito, duplamente qualificado. Inconformidade pelo incômodo...e assim por diante.



A humanidade, no prisma do divã, através do olhar clínico e imparcial de quem segura a caneta de doutor, seria paciente, em negação de espírito. Nos cercamos de diversas ilusões para sustentar a crença do controle e supremacia pela razão. O homem, que é acima de tudo, até mesmo de sua própria natureza. A razão, apóstola do Ser em seu complemento animal, ascende-se ao topo da glória como elemento diferenciador, ferramenta de alcance do grande poder; o domínio do polegar que nos afasta do "bobão" de neandertal.

No circo da razão imperial; instintos, impulsos e razões são predicativos de um sujeito irracional, reles mortal da natureza, negada como "Mãe" e abandonada qualquer impositividade acerca da subordinação natural à origem de tudo. Egos inflamados de ignorância, cultivados pela mestra do domínio humano: a razão. Buraco negro do universo mental. Pensamos, logo nos iludimos...


"O homem vangloria-se de ter imitado o vôo das aves com uma complicação técnica que elas dispensam."
Carlos Drummond de Andrade

Essa negação, paradoxalmente inconsciente, impede a comunhão natural do homem como ser animal em sua plenitude. Por isso somos surpreendidos constantemente com incômodos, inconformidades e inquietudes. Tentamos decifrar o enigma do homem, pela razão, excluindo sua natureza complementar. 


"A poesia não se entrega a quem a define".
Mario Quintana


Vivemos de dualidades, pretos e brancos, gordos e magros, homens e animais. O "TUDO" não se separa ou dualiza. É um só. Abandone a inconformidade e busque o complemento. Pensar sempre será um ato e sentir, o fato mais sagrado. Razão, sem emoção, exclui a potencialidade criativa e inspiradora do indivíduo. Emoção, sem razão, exclui o discernimento das paixões, dos espíritos livres que desvinculados desta, são capazes de cometer a pior das atrocidades. Aquele que abandona a racionalidade que o distingue, abandona o homem para SER o pior dos seres.



Talvez, somente talvez, se permitíssemos que o "coração" sentisse a fundo a emoção, sem negações, medos ou tentativas abortivas de "sentir", mesmo que o "fundo" batesse no "poço", as dores de amor, quando ocasionadas, cessassem mais cedo. Além de sofrer pela perda em si, sofremos, também, por estarmos sofrendo. Duplicamos tudo utilizando a razão de forma errada. Racionalizar sentimentos, amores, saudades e quereres é soma exata para resultados incógnitos. Solução inexistente já que o X da questão não existe em termos numéricos. A razão torna a consciência da saudade dolorosa, a razão impõe o sexo além do instinto procriativo, a razão desenvolve o amor; razão pela qual também sentimos dor; dor por não ser amado, dor por amar demais; dor por ter perdido, dor por ainda recordar de um passado com presença constante. Cicatrizez, marcas, vivências e experiências. Razão e emoção: além de temas de músicas e filmes, complementos perfeitos de integração do Ser ao Humano.


"Eu, agora - que desfecho!
Já nem penso mais em ti...
Mas será que nunca deixo
De lembrar que te esqueci?"
Mário Quintana


Sofrimentos são mais do que necessários, mas naturais. O doença é grave quando o paciente nada sente. A dor é a revelação de vida sentida, vivida no ato. Sentimos sua presença pela antecedência natural de um sentimento positivo, razão de sua existência. Sem dor não haveria nada, sequer mudanças. E sem mudanças, não haveria inícios, já que estes são impulsionados pela transformação em si, pela mutação do estado predecessor. As maiores inconformidades do homem residem na dor e na mudança, como se estas fugissem do ciclo natural da vida. É uma forma de negação oculta. Daí, inconformados com o sentimento que estas "presenças ausentes" nos causam, paramos no tempo, postergando ainda mais o impulso de vida, que sempre seguirá para o próximo passo. São nossos murros em pontas de faca.


"O tempo não pára! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo..."
Mário Quintana

"Ninguém é igual a ninguém. Todo o ser humano é um estranho ímpar."
Carlos Drummond de Andrade


O certo não é ausentar sentimentos inerentes ao nosso querer; é permitir ir a fundo, sem buscar os porquês. Amor, pra ser amor, não tem explicação. Encontrar razões plausíveis que embasem o sentir de X por Y e não por Z, são respostas baseadas em conveniências e afinidades. Ambos medidores podem ser encontrados em qualquer outra pessoa. O "sentir" é termômetro do destino, sem bula ou posologia adequada. Vários carros que circulam nas ruas são lindos, potentes, cheios de "guéri guéri", mas ainda assim, MEU desejo é ter o Mini Cooper, preto e branco, com banco de couro combinando com a lanternagem, todo equipado mais do que qualquer outro carro que circula por aí. Fazer o que?!


"De tudo ficaram três coisas...
A certeza de que estamos começando...
A certeza de que é preciso continuar...
A certeza de que podemos ser interrompidos
antes de terminar...

Façamos da interrupção um caminho novo...
Da queda, um passo de dança...
Do medo, uma escada...
Do sonho, uma ponte...
Da procura, um encontro!"
Fernando Sabino


Para esquecer basta permitir-se lembrar. Quanto maior a força para o esquecimento, maior será a lembrança adquirida pelo impulso da vontade negativa. Lembre, continue lembrando, sem a nada forçar,  até que um dia, uma súbita lembrança, lhe recorde da pretéria e urgente vontade de esquecer.



"As obras-primas devem ter sido geradas por acaso; a produção voluntária não vai além da mediocridade."
Carlos Drummond de Andrade





A inquietude com o inconformismo, o embrulho que uma má sensação nos causa é produzida pela emoção oriunda da mais abstrata, intangível e oculta arte de sentir. O sentir é o ponto de partida do homem para criação. O pólo artístico alcançado pela canalização da emoção com o filtro racional do indivíduo. O devido uso da emoção. No que tange às emoções, as regras clássicas são invertidas. A razão, pincel; a emoção, tinta; o quadro, vontade e, o pintor, ah... o pintor, esse artista é anônimo e não revela a inspiração de sua arte. Alguns chamam de destino, outros de "Sei Lá", muitos "Porque é" e, em algumas provas, engraçadinhos respondem "Porque Deus quis". Seja qual foi a nomenclatura, o certo é que o sentir não está em nossas mãos. Sujeito oculto do homem racional, revelado pelos insitintos mais naturais e incomformes do indivíduo, quando somado com sua porção livre de pensar, ao enconro de respostas para o "sentir", cruza o eterno labirinto do "entendo, mas não compreendo" e assim será eternamente.



Dói demais sentir a falta da presença do "alguém" que não mais encontra-se lá, seja onde esse "lá" for. O vazio torna-se permanente e qualquer tentativa de substituição revela-se, mais tarde, na pena da saudade, redobrada. Remédio? O desapego pela busca de respostas em si. Desapego pela ansiedade de prosseguimento, pelo ímpeto de querer esquecer o inesquecível. Desapego do apego do querer e não estar mais presente. Desapego das constâncias, das ilusões de que "respostas" solucionam tudo. Respostas e fatos não criam pinturas, escrevem poemas, refletem melodias ou equalizam emoções. O importante é compreender o poder da razão na diretiva de cada um, na realização de travessias, ousadia de ações, quebra de padrões ou continuidade de passos.


"Nos acontecimentos, sim, é que há destino: Nos homens, não - espuma de um segundo...
Se Colombo morresse em pequenino,
O Neves descobriria o Novo Mundo."
Mário Quintana


Se sentir é fato, obviamente, a negação do verbo exposto, na conformidade de sua existência, esconde-se no limbo da razão eternamente provocada, no entanto, jamais saciada. "Ís" sentidos por inconformismos, inquietudes, incógnitas, incompreensões e inadequações de corpos pensantantes,  no intuito de domínio dos corações selvagens habitantes da "Terra de ninguém". Corações Palestinos, a despeito de reconhecimentos que embasem sua condição e reconhecimento, permanecem válidos e legítimos diante do duelo racional numa sala de espelhos.


"Quantas vezes a gente,em busca da ventura,
Procede tal e qual o avozinho infeliz:
Em vão,por toda parte,os óculos procura
Tendo-os na ponta do nariz!"
Mário Quintana


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 "Liberdade é o espaço que a felicidade precisa"
                                            Fernando Sabino










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18 comentários:

Joseane Barbosa disse...

muito lindo o texto. realmente inspirador.

@Raphael_Braga disse...

Que poema maravilhoso! quem é o autor?! Pelo google não encontrei.
Sábias e belas palavras. encantado.

Anônimo disse...

now in my rss reader)))

thanxxx
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Aninha Fargulho disse...

fascinada pela cronica!! ameiiii o blog!!!
Beijos! Parabéns!!!

Jaque Menorah disse...

muuuuitoooo lindooo tudo, vc tem um dom!!!

Marçal Fonseca disse...

MARAVILHOSO,ESPLÊNDIDO.

@FabyMarreiro disse...

@FabyMarreiro 10:14pm via Web

@_Vale_a_pena Obrigada Pela sugestão \o/ A ARTE DO DESAPEGO - SAUDADES, LEMBRANÇAS E RAZÕES.

Rebeca Algino disse...

acho suas entrelinhas sensacionais.
não sei se as capto corretamente, mas ainda assim, percebo-as em casa palavra.
demais!

@andrea_primo disse...

@andrea_primo 11:41am via web

Crônica: A ARTE DO DESAPEGO. "A liberdade é o espaço que a felicidade precisa" http://ow.ly/3hWFq Muito bom mesmo!!!!

Melinda D. disse...

"Ah se pudesse escolher, de tão viciada que sou
Ainda escolheria você, reconhecimento do equívoco,
Verdade injusta na dolorida versão
Revelada na angústia do que carrega
no quase sem, do querer em nós,
Agora em mim, até que fim."

P-E-R-F-E-I-T-O

@rickdoblog disse...

@rickdoblog 9:53am via Web

@_Vale_a_pena Excelente texto! Como me achou?

@utilandfutil disse...

@utilandfutil 2:46pm via Web

@Girly_Stuffs Parabéns pelo Post: Duelo de Espelhos - A incrível arte do desapego - Confiram http://girlystuffs.blogspot.com/ #comportamento

@Alanna_Souto disse...

@Alanna_Souto Dec 05, 9:48pm via Web

Gostei da chamada do blog "decifra-me ou devoro-te",como ñ sou lá muito boa a decifrar...terei uma ação melhor devorando rsrrs

@emtoques disse...

@emtoques 8:00am via TweetDeck

Muito legal. Parabéns! Gostei e indicarei aos membros do @mimoufam. http://bit.ly/9mYQrM.

@camistanus disse...

@camistanus 4:50pm via Web

Que post divino! Parabéns.

@danibonatto disse...

@danibonatto 4:57pm via Web

Pra que te quero, se me devora? adorei :D

@veranicegui disse...

@veranicegui 10:13am via Web

Oi, eu li seu post no blog, puxa vida eu adorei. bjos

@camistanus disse...

@camistanus Dec 06, 4:50pm via Web

Que post divino! Parabéns.

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